Por: Cristofer de Mattos
"Quando um certo alguém desperta o sentimento, é melhor não resistir e se entregar.”
O verso de Lulu Santos foi escrito para tocar no rádio, mas toca mesmo é no coração dos gremistas. Ninguém é ídolo por acaso.
Havia um vazio pronto para ser alegria.
A ausência de Renato Portaluppi na inauguração da Arena foi sentida.
Talvez até pelo próprio estádio do Humaitá, que dizem ainda não ter uma alma.
Mesmo que Portaluppi seja onipresente e habite os corações tricolores, a distância física precisava ser encurtada.
O reencontro foi ontem.
A água que caiu sobre o Estado serviu para batizá-lo.
E a vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo serviu para lavar a alma – que agora existe.
Ainda não há um padrão tático, mas Renato devolveu ao Grêmio uma energia em campo.
O Botafogo, no momento, é mais organizado e pronto.
Mas o tricolor foi capaz de igualar o jogo pela vontade.
Isso ficou claro logo aos 12min: Alex Telles foi lá no fundo, como o treinador tem exigido nos treinamentos, e cruzou. Na caída da bola, de perna esquerda, de virada, golaço... O chileno, dentro da área, como atacante, como também quer Renato, como não fazia muita questão Luxemburgo.
Acontece que do outro lado estava um gênio da bola.
Aos 19min, Seeddorf, na intermediária esquerda, pegou a bola, carregou e chutou com o seu selo de qualidade no ângulo esquerdo de Dida: golaço. O Botafogo cresceu e tomou conta do meio-campo.
Mas engana-se quem pensa que o futebol é tão somente tática e estratégia; há componentes místicos.
Foram eles que fizeram a bola sobrar para Vargas aos 34min.
Após cabeçada para trás de Bolívar, o chileno chutou de primeira na caída da bola, no meio do gol, que demorou a ser validado, já que o bandeira precipitadamente viu impedimento – Kleber estava adiantado mas não participou do lance.
O Botafogo não era um adversário com estrela solitária, como sua alcunha.
Além de Seedorf, havia um time muito bem organizado, que pressionou todo o segundo tempo, enquanto o Grêmio protegia a vantagem da forma que podia.
Mas quem tem estrela é Renato.
Em outros tempos, talvez os cariocas tivessem empatado.
Mas a mística estava de volta.
Não há garantia de que o Grêmio chegará ao topo.
Acontece que agora há um estádio de alma lavada e uma torcida que se entrega e confia em quem tanto desperta o seu sentimento.
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