terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Grêmio desafia a lógica, mas nem tanto


Por: Cristofer de Mattos

As três vitórias recentes e consecutivas do Grêmio com Renato Portaluppi desafiam a compreensão lógica. O esquema posto em campo tinha tudo para dar errado. Três zagueiros e três volantes deveriam tornar o time engessado, excessivamente defensivo e sem capacidade ofensiva. Mas a equipe marcou três gols por partida. Um pouco de sorte? Sim. Fruto do acaso? Nem tanto. O Grêmio atual é uma prova da mudança tática do futebol contemporâneo.
Nem todo torcedor gosta de discussões sobre esquemas táticos, sobre funções estratégicas, posicionamento, etc. Preferem a velha lógica de quem ganha é o time que tem a melhor matéria-prima à disposição (isso se o juiz não "roubar"). É claro que não é bem assim. Mas é claro que também é um pouco assim. Entretanto, mais importante hoje do que 3-5-2, 4-4-2 ou 4-5-1 é a movimentação dos jogadores em campo.
Todo o esquema é possível de dar certo. Depende claramente das características dos jogadores à disposição. Mais importante do que o ponto de partida é o de chegada. Se você tiver um volante que saiba marcar e preencher espaço sem a bola e com ela saiba armar e finalizar, você pode ter dois, três, quatro, cinco volantes... Riveros e Ramiro têm sido esses homens. No papel, o Grêmio contra o Vasco não teve nenhum meia, mas, na prática, teve dois de boa qualidade. Ambos cumprem as funções defensivas e contribuem com as questões ofensivas.


Evidente que a amostragem é pequena para determinar que essa é uma dupla afirmada como titular. No momento, entretanto, as últimas atuações comprovam a lógica moderna do futebol: mais que losangos, quadrados ou triângulos, o verdadeiro desenho tático que funciona é aquele em que os jogadores praticam um futebol solidário, de preenchimento de espaços, de comprometimento coletivo. Os melhores exemplos são o Barcelona e o Bayern de Munique. Os meias e atacantes mudam tanto de posição que, por vezes, fica difícil de determinar onde joga Messi ou Müller.
O Grêmio de Renato está muito, muito distante dos dois exemplos europeus. Na verdade, não tem praticamente nada de semelhante  (a não ser que joga com onze homens). Tem em comum, sim, uma solidariedade em campo que não tinha, por exemplo, com Vanderlei Luxemburgo.
De qualquer modo, não há garantia de que o Grêmio consiga seguir desafiando a lógica com um esquema teoricamente defensivo, que na prática é ofensivo. Mas não dá para contrariar os fatos – contra eles não há argumento. Por enquanto está funcionando. Logo ali na frente é bem provável que Renato tenha que mudar. Com o retorno de Zé Roberto, por exemplo, o time deverá ser mais equilibrado. O atual é um esquema emergencial, que tem dado muito certo, mas deve ter os dias contados. Entretanto, por ora, em time que está ganhando não se mexe.

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