Por: Mauro Beting
110 ou 220?
Grêmio. Desde 1903.
Não importam números, embora 1983 encerra discussões.
Não importam ou exportam nomes. Mas Lara é tema eterno. Portaluppi
fez o planeta mais azul. Aírton é pavilhão. Iúra foi símbolo. Scolari
faz cátedra. Foguinho acalenta. Valdo esfria. Everaldo rima e é seleção.
Jardel é cabeça. De León é corazón. Alcindo é bugre. Gessy é Grêmio.
Vocês são Grêmio onde ele estiver.
A pé, em pé, caído em
segundas divisões, primeiro em Libertadores e Mundial, veterano copeiro,
imortal vencedor de jogos eternos. Aflitos e Olímpicos, Moinho dos
Ventos e Arenas, Baixada e no Humaitá, azedo na Azenha, doce e amargo,
Grêmio e Tricolor.
Até ganhar o BR-81 não era visto por Rio e São Paulo.
Quando fez a América e fritou o Hamburgo passou a ser mais respeitado.
Mas só passou mesmo a patrola na patrulha paulista e carioca quando foi
parrudo e marrento ganhando as Copas do Brasil. Quando não era favorito
para a mídia. Mas foi melhor que o Flamengo em 1997, no tri. Quando foi
melhor que o Corinthians em 2001, no tetra.
Ninguém dava bola ao Grêmio. Mesmo campeão da Copa do Brasil em 1989. Mesmo bi em 1994.
Ninguém dava crédito ao Grêmio. Mesmo campeão da América em 1995. Mesmo vice nos pênaltis para o grande Ajax.
Muitos davam perdido o título brasileiro de 1996 até o chute final de Aílton.
Quase todos davam perdido o acesso em 2005 no pênalti de Galatto. No
gol de Anderson que nem o mais fanático gremista (redundante) acreditava
no fantástico e fabuloso.
Se é que gremista nasceu para não acreditar no Grêmio.
Ele não torce. Ele acredita.
Ele é Grêmio.
Eles são Grêmio para o que der e vencer. Mesmo que não venha, eles vão.
Fanáticos e fantásticos como tantos torcedores de tantos times com mais ou menos conquistas.
Mas os que são tricolores, que são gremistas, que já sofreram com o
rival figadal, que já foram fidalgos ou não, esses parecem saber de
algumas coisas que não sabemos quando o time deles joga.
Eles sabem que é possível. Podem ter menos time que os rivais. Podem ter menos dinheiro. Menos poder. Menos midia. Menos gente.
Mas eles nunca têm menos torcida. Jamais têm menos fé.
O poder do Grêmio é esse.
Eles mais acreditam que torcem. Eles se acham mais predestinados. Guerreiros. Imortais. Invencíveis.
Claro que eles não são tudo isso.
Mas vá enfrentá-los! Em campo e nos bancos. Nos botecos e nos batuques. Nas bolas e nos papos. Na grama e na fama.
O tricolor não verga. Ele esgrima. Ele Grêmio.
Pode não vencer. Mas ele vai lutar.
É preciso respeitar até quando não se gosta e não se tolera e entende.
É preciso ser um pouco Grêmio para vencer o brasileiro mais uruguaio. Mais argentino. Mais alemão. Mais Grêmio.
É preciso ter um pouco dessa alma de avalanche para atropelar quem estiver pelo caminho.
Você pode não gostar do jeito, do jogo, dos modos, dos meios.
Mas você tem de respeitar essa história. Tem de entender essa glória.
Tem de admirar essa gente cujo hino é de um Lupicínio que cantava a
dor-de-cotovelo de corações dilacerados e compôs uma letra que poucos
clubes têm: não fala de conquistas de galerias de troféus. Fala de
sofrimento e encantamento de quem torce. De quem ama. De quem acredita.
De quem é Grêmio antes de ser gente. De gente que é Grêmio antes de ficar e ir a pé onde ele estiver.
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